Não sei se é o algoritmo ou então minha empolgação para assistir Divertidamente 2, mas tenho lido e assistido sobre a importância de dialogarmos com a nossa criança. Sim, a que vive dentro de nós (acredite, ela está aí, em algum lugar). Psicólogos e demais entendidos do assunto diriam que isso é fundamental. Por que, então, esquecemos disso com tanta facilidade? E pior: por que nos convencemos de que nossos “mini-me” não sabem nada?
Em entrevista ao programa Conversa com Bial, o carnavalesco Milton Cunha fala sobre a conturbada relação com os pais, que não aceitavam sua homossexualidade. Sem ter tido chance de reconciliação, ele cita o buraco oceânico que é o vazio de uma infância sem afeto. Para preenchê-lo, uma das saídas encontradas por Milton é conversar com a criança que um dia foi. “De tempos em tempos, ela vem me visitar, eu bato papo com ela, ela pergunta se estou indo bem, se estou fazendo o que quero.”
Confira alguns trechos:
Rotas de fuga
Já falei aqui sobre os benefícios de brincar na vida adulta, e cada vez mais me convenço da tolice que é acharmos que não temos mais idade para isso ou aquilo. A verdade é que conversar com quem fomos na infância deveria ser fácil, mas geralmente essa versão está camuflada entre os medos e inseguranças que classificamos como “coisa de criança”. E então deixamos essa criança silenciada, num cantinho meio escuro e mal ventilado dentro de nós.
Até ela decidir aparecer com toda força.
Esse é o verdadeiro enredo de Eric, minissérie disponível na Netflix. O pano de fundo é o desaparecimento de uma criança na violenta Nova York dos anos 1980, entretanto, o suspense em torno disso é um só um detalhe. O que chama a atenção é a toxicidade presente nos relacionamentos adultos, ainda que, é claro, as próprias personagens não tenham consciência disso. São pais e filhos, colegas de trabalho, polícia e sociedade civil, casais héteros e homoafetivos rodeados pelo preconceito e a falta de afeto mencionados por Milton Cunha. Assistam.
Sei que pode parecer uma série pesada, mas não é. Pelo contrário: é uma sequência bonita de pessoas completamente perdidas mas que, entre erros e acertos, não desistem de encontrar a si mesmas e, por consequência, sua própria paz.
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A gente cresce e inventa umas rotas de fuga estranhas - não raro tóxicas - sob a justificativa de que temos boletos a pagar, compromissos a honrar, mas, volta e meia, tudo o que queremos - e precisamos - é um colo, um ombro amigo.
Que seja de nós mesmos.
Você tem conversado com a sua criança?
Para avançar na semana
Uma música, um filme, um podcast…uma dica, enfim, para deixar o dia melhor:
Ouça > Who’s afraid of little old me? (Taylor Swift)
Assista > Eric
Ótimo tema, Luísa! Obrigada por compartilhar suas reflexões. Espero que você esteja bem e que o recomeçar esteja sendo também uma fase de acolhimento da sua criança interior. Um beijo!
Agora fiquei ainda mais interessada em assistir a minissérie Eric. Aproveito para indicar Close (caso ainda não tenha visto heeheh), eu assisti e gostei. Belo texto 👏🏻