18 de Outubro
A Medicina fala comigo como uma irmã mais velha: nos amamos, mas temos nossos perrengues também.
Quando meu irmão se formou em Medicina, nosso primo (um não-médico, como eu) o parabenizou por “manter a tradição na falta de originalidade da escolha profissional”. Com humor, ele encontrou um jeito de dar o recado: há médicos demais na nossa família. No meu caso, tanto por parte de pai quanto de mãe.
Costumo brincar que as festas da minha família são super seguras para a manifestação de um mal-estar: o atendimento é na hora, não precisa nem chamar a ambulância.
Brincadeiras à parte, tenho o maior respeito pelo meu pai e pelo meu irmão (e avô e tios e primos e primas, de primeiro e segundo graus, entre formados e estudantes), que realizaram o Juramento de Hipócrates – o momento solene da colação de grau em que os novos profissionais se comprometem com a prática honesta da Medicina.
Lá em casa, o 18 de outubro, data que celebra o Dia dos Médicos, sempre é lembrado. Quando pequena, dizia que queria ser igual ao meu pai, pediatra neonatologista. No entanto, minhas Barbies eram sempre estrelas do cinema, jornalistas, arquitetas, estilistas ou cantoras; todas muito solicitadas entre as viagens e festas de gala que eu criava no mundo do meu quarto.
Bati o martelo pelo Jornalismo quando entendi que preferia fazer plantão em uma redação do que em hospitais. Mas as ~~ certezas ~~ que temos aos 18 anos geralmente se desfazem conforme caminhamos e ganhamos experiência. Será que escolhi certo? E se tivesse feito Medicina? E se eu fiz tudo errado? E se…? No ano do meu debut profissional (completei 15 anos de formada no dia em que lancei esta news), só tenho uma certeza: o “e se” não leva a lugar algum.
No início de uma carreira, geralmente nos empolgamos com a ideia de uma trajetória linear, acumulando estrelas douradas pelo caminho, seguindo por uma reta até o topo (e na velocidade que desejamos, claro).
Mas o ideal não existe. Nenhum spoiler aqui, certo?
O mundo real, esse por onde andamos e fazemos escolhas, é uma mistura de estradas bem pavimentadas, curvas sinuosas, bifurcações, lombas, trechos de terra, pedras e buracos.
Isso vale para todos nós. Sem exceção.
Calma, não se assuste: há flores pelo caminho também.
Todas as profissões têm um lado bonito e outro não tão atraente. Como dizia uma professora querida, temos que ouvir o que dialoga com a gente. A Medicina fala comigo como uma irmã mais velha: nos amamos, mas temos nossos perrengues também. Nossas personalidades são muito diferentes, cada uma seguiu o seu caminho, mas nos respeitamos. Quando preciso, sei onde encontrá-la.
Sob as mais diferentes especialidades, o conhecimento aliado à ciência permite à Medicina trazer alívio, conforto e força quando nos deparamos com a fragilidade da vida.
De certa forma, a palavra escrita também. E este é – sempre foi – meu chão.
P.S. - Amanhã, quarta-feira, é 18 de outubro. Registro aqui, antecipadamente, meu carinho e admiração aos médicos da família (dos dois lados!) e a todos que escolheram dialogar honestamente com esta profissão.
Para avançar na semana
Uma música, um filme, um podcast…uma dica, enfim, para deixar o dia melhor:
PARA ASSISTIR: Scrubs (Amazon, Disney+) > Entre o sucesso do clássico Plantão Médico (sim, aquele do George Clooney) e as infinitas temporadas de Grey’s Anatomy (time Cristina Yang para sempre), existiu uma série chamada Scrubs, que falava sobre (amizade, amor, medo, saudade, escolhas, aprendizados) a vida.
Casualmente, os personagens eram médicos.
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