O ano era 2019, fiquei um mês sem dormir. Na verdade, eu dormia, mas não muito mais que duas ou três horas por dia, e nas outras vinte eu trabalhava ou pensava em trabalho, incluindo final de semana. O esgotamento total não tardaria.
O estresse do lado de fora e a ansiedade por dentro deram vida a um pequeno monstrinho de dimensões desproporcionais e nome gringo: burnout. Aos poucos, fui sumindo. Um dos meus melhores amigos, com quem tenho o hábito de trocar e-mails como se fossem cartas, ficou tanto tempo no vácuo que chegou a me enviar um “buuu” como mensagem, para saber se ao menos eu estava viva. Eu estava. Mas também não.
Me rendi. A exaustão tomou conta.
Eu não podia mais ignorar as diferentes formas com que meu corpo e minha mente tentavam dizer “pare”. Mesmo que à força, desacelerar me fez entender que para o trabalho sempre haveria uma nova oportunidade, um jeito de recomeçar. Para cuidar da minha saúde talvez não houvesse uma segunda chance.
Uma parte gigante de mim preferia não ter passado por isso. Mas este foi um recomeço que caiu bem, e trazia uma mensagem clara: mexa-se. E nunca mais abra mão disso.
Um corpo em movimento é capaz de operar milagres.
Importante dizer: nunca fui “rata de academia”, pelo contrário. Se tinha algo que eu fazia era pagar plano de academia e não ir. Um clássico. Todas as desculpas valiam: sono de manhã cedo, cansaço após trabalho, chuva, frio, calor, um chopp com a galera, Mercúrio retrógrado. Qualquer oportunidade que eu tivesse para não me exercitar era recebida como um presente.
Mas isso era antes.
Em breve, fará um ano desde que comecei a praticar exercícios físicos duas vezes por semana, eventualmente três, sempre cedo pela manhã. Não estabeleci este hábito num passe de mágica e não acordo dando pulos de alegria para ir à academia. Digo em tom de brincadeira - mas talvez tenha um fundo de verdade [risos irônicos] - que não treino pelo glamour da foto no espelho, eu treino para não matar ninguém.
Longe de querer entrar no mundo do crime, me mexo para que meu cérebro respire melhor e dê um chega pra lá na ansiedade. E numa espécie de efeito dominó, meu sono e digestão melhoram. Eu só ganho. Como não percebi isso antes? Ah, pois é.
A glamourização do estresse continua em alta no mercado, fico impressionada com o tanto de gente que ainda topa pagar caro por tamanha ilusão. Não sejamos ingênuos: trabalhar é importante, a realidade no Brasil não é fácil e os boletos chegam mais cedo ou mais tarde. Mas, se no meio desse caos geral e particular for possível dar uma volta na quadra, acredite, você já ganhou.
Mexa-se, apenas mexa-se. Escrevo isso mais como um lembrete a mim mesma do que como uma espécie de recado (afinal, quem sou eu na fila do pão?). Mas, se quem avisa amigo é, encerro hoje com versos do grande vizinho uruguaio Jorge Drexler:
“Quien no lo sepa ya, lo aprenderá de prisa
La vida no para, no espera, no avisa.”
PS - Sei que essa news é quinzenal, mas em setembro eu e o Tiago tiraremos uns dias mais que merecidos de descanso e, por isso, devo antecipar a news do dia 19 para semana que vem, 12 de setembro. Aguardo vocês por aqui, como sempre :)
Para avançar na semana
Uma música, um filme, um podcast…uma dica, enfim, para deixar o dia melhor:
PARA SEGUIR no embalo do papo de hoje, cuide-se e acompanhe a
(também no Instagram). E quando alguém falar que ansiedade é exagero ou mimimi, apenas compartilhe o perfil 🤍 Post em Branco 🤍.PARA OUVIR a música que encerra o texto: Inoportuna > Jorge Drexler.
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