Faz mais ou menos um ano que vivi um dos momentos mais legais da minha vida: reencontrei - ao mesmo tempo - minhas duas melhores amigas de infância.
Não bastasse a comoção do encontro, o cenário era ainda mais emocionante: o Central Park, num dia iluminado de sol durante o inverno congelante de Nova York.
Se eu fechar os olhos, lembro até hoje de avistá-las em meio à multidão e literalmente correr para o abraço.
Não dá pra ter tudo
Arrisco dizer que eu e as gurias não paramos de falar pelas 48 horas em que estivemos juntas. Um dos tópicos debatidos, entretanto, ressoa em minha mente até hoje. Foi quando falamos sobre como não era possível ter tudo, muito menos ao mesmo tempo. Não por incompetência nossa ou por uma visão pessimista de que a vida não seja justa. Nada disso. Era, sim, uma questão de entender a mensagem de John Lennon, que casualmente havia feito parte do nosso dia no Central Park.
A mensagem a que me refiro não é a cravada em pedra, e sim um trecho da música Beautiful Boy, escrita por Lennon para o filho Sean: a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos.
Em outras palavras: enquanto alguns sonhos se realizam, outros mudam e alguns acabam sendo adaptados. C’est la vie. E tá tudo bem. Sou suspeita para falar, mas vejo minhas amigas cada vez mais brilharem nas suas próprias jornadas, pena que eu tenha que acompanhar à distância. Não dá pra ter tudo, não é mesmo?
Metade para cá, metade para lá
Talvez eu esteja muito presa à nova temporada de Severance (Ruptura), mas tenho acompanhado entrevistas dos protagonistas na divulgação da série, e uma das que mais gostei foi a de John Turturro no programa de Seth Meyers. Questionado sobre a série ser muito visual, o ator revela que não tinha muita ideia, visualmente, de como o show seria, mas que o roteiro era muito bem escrito (como não amar?). Turturro ainda complementa: “já tive trabalhos em que ficava imaginando escapar, ser outra pessoa, mas, você sabe, é parte da vida: dividir a si mesmo”.
É isso. A gente se divide. Em muitos papéis. Não que a gente queira ou ame fazer isso, mas é o que acabamos fazendo para não dar uma Simba e rir na cara do perigo, digo, não sermos engolidos pela vida. O bacana é que, diante do nosso privilégio de escolha, dá pra ser/fazer/ter muita coisa. Dá pra ter muitos namorados ou nenhum. Dá pra conhecer inúmeros países, ou então viajar lendo no sofá de casa. Dá pra morar fora por anos e depois voltar. Dá pra apenas ir. Dá pra ser médico, engenheiro, advogado, professor, jornalista, cientista, empresário, artista plástico, ator, influencer, YouTuber. Dá pra largar tudo e vender sanduíche natural da praia. Dá pra acordar cedo e correr 5km, dá pra ficar de preguiça na cama. Dá pra ter momentos mais introspectivos, dá pra curtir a vida adoidado, ou passar uma vida inteira sem saber apreciar a própria companhia (não recomendo). Dá um monte de coisa.
Mas não dá pra ter tudo.
Não tem como.
C’est la vie. E tá tudo bem.
Para seguir a semana…
Minha primeira reação ao assistir Ruptura foi I’m very confundida. Hoje eu diria: é um caminho sem volta.
Obrigada por chegar até aqui, até a próxima!
Estava pensando em como somos compartimentalizados e como não conseguimos ter acesso a todas as versões de uma pessoa. Pensando em como uma determinada relação nos exige um determinado comportamento, sempre único. Não dá pra ter tudo, mas é interessante como dá pra ser muitos. Adorei a reflexão e bem que queria estar passeando com as amigas no central park agora, mas realmente, não dá pra ter tudo. hehe
que lindo ler aqui nos comentários esse negócio de "dá pra ser muitos". e como é bom a gente poder ser de tantas formas diferentes.
me lembrei da história que o Jô Soares contou sobre o filho dele querer 12 livros na livraria e ele propor que o filho escolhesse apenas seis. ele responde que preferia não levar nenhum porque "escolher é perder sempre".
escolher é difícil. mas é que tem algumas coisas que valem mais a pena que outras.
p.s: que fotos lindas! deu pra sentir a energia e o amor daqui. ❤