Minha melhor amiga de infância casou em Jericoacoara, no Ceará. Como madrinha de casamento, uma das missões que recebi foi levar o buquê da noiva de Porto Alegre até o destino paradisíaco. “Deixa comigo” foi minha resposta instantânea.
O arranjo de lavanda foi entregue dentro de uma caixinha de isopor, com gelo seco, um dia antes do embarque. As instruções eram claras: guardar na geladeira, evitar impacto e manter hidratado. No dia da viagem, considerando as escalas, eu sairia de Porto Alegre às 6h e chegaria no hotel por volta das 20h. No raio-x do aeroporto, a moça do outro lado da esteira pergunta:
— É remédio?
— Não, são flores.
Ela me olhou como se dissesse que não estava para brincadeiras àquela hora da manhã, mas ao invés disso abriu a caixa. Vendo que eu não mentia, consentiu que eu seguisse em frente. O voo lotado passou mais rápido que o esperado, e de repente eu já estava em São Paulo fazendo a escala que me levaria até Fortaleza. Novamente, o raio-x.
— Moça, o que tem nessa caixa? São remédios?
— Não, um buquê de flores.
Fui fuzilada com o olhar de quem não estava num bom dia. A agente do aeroporto me poupou de qualquer xingamento e apenas abriu o isopor. Conferiu que eu dizia a verdade e assim passei para a zona de embarque. Entrei no avião pouco tempo depois.
— Senhora, você precisa colocar essa caixa no compartimento de bagagens, não pode ficar no colo - alertou a comissária de bordo.
— Moça, por favor, é um buquê de noiva, eu não posso deixar solto lá em cima, vá que a caixa abra e estrague tudo.
— Perdão, o que você disse que tem aí dentro?
Respondi abrindo a caixa e, no mesmo instante, ganhei uma nova melhor amiga. A comissária, muito gentil, perguntou se era meu casamento, mas esclareci que eu era apenas responsável pelo transporte daquele artigo da noiva.
— Certo, mas no momento da decolagem e da aterrissagem você precisa deixar a caixa nos seus pés, não pode ficar com ela no colo.
— Claro, pode deixar.
O voo de São Paulo a Fortaleza levaria em torno de 4 horas, um pouco menos. Me organizei para, antes de sair do avião, pedir gelo ou água que garantisse a vida do buquê no trajeto final, do aeroporto até o hotel onde passaríamos o final de semana da cerimônia. Tudo certo, até começar a turbulência. Foram os 30 minutos mais longos da minha vida. Segurei a caixa com a firmeza de uma mãe que protege o filho, rezei três ave-marias e uns cinco pais-nossos, pedi desculpas mentalmente à minha avó por todas as missas de domingo que não havia ido, implorei a qualquer força maior que por favor nada acontecesse, aquela não podia ser a minha hora, eu não admitia que minha amiga casasse sem o buquê.
O avião pousou com segurança em Fortaleza, onde uma van esperava por mim e outras pessoas que chegariam em horários próximos, de outras localidades. Grupo reunido, partimos. Desta vez, por terra. Lá fomos nós, a caixa e eu, para mais umas quatro horas de viagem (ou quase, àquela altura já nem sabia mais onde estava). Paramos num restaurante de beira de estrada, onde comi o melhor baião de dois da vida. O clima entre todos era um misto de cansaço e empolgação com a festa que aconteceria no dia seguinte.
— O que tem na caixa que você cuida tanto? - perguntou uma das convidadas.
— Ah, é o buquê da noiva.
O som dos talheres caindo nos pratos foi seguido de um uníssono “deixa a gente veeeeer” e logo depois um “ooooohh”, quando abri, novamente, o polêmico isopor. Chegando no hotel, tirei os sapatos e pisei na areia macia. Relaxei. Olhei para o céu lotado de estrelas, conclui que a aventura tinha valido a pena. No quarto, um bilhete assinado pela minha amiga trazia um convite: “põe uma rasteirinha e vem beber uns bons drinks!”.
Após duas passagens pelo raio-x, um voo turbulento e uma viagem de van, coloquei o buquê na geladeira, onde ficaria protegido até a cerimônia. Missão cumprida.
Que lindo 🤍
Hahahahha que liiinda ❤❤ amizade mais linda. Sorte a nossa te ter xará! O buquê estava lindo