O incômodo
Tudo corre bem e, de repente, algo dentro de mim emite um sinal de alerta: alto lá!
Acordei com uma sensação estranha. Não tive pesadelo, não era ressaca nem dor no estômago. Apenas um incômodo. Fui no automático: peguei o celular achando que ia passar. Em vão.
Já tive essa sensação antes. Tudo corre bem e, de repente, algo dentro de mim emite um sinal de alerta, como se eu precisasse ficar desconfortável. Como se algo ou alguém avisasse: alto lá! E, de repente, sou invadida por uma onda que leva para longe qualquer traço de segurança ou tranquilidade. Por sorte, sei nadar. Não me afogo, mas perco o rumo, me distancio de mim mesma.
Fosse uma pessoa, o incômodo seria um parente arrogante ou um amigo inconveniente que não evoluiu nas piadas de mau gosto. Evitamos ao máximo, mas eventualmente os encontramos e não há o que fazer a não ser cumprimentá-los.
Oi, tudo bem?
Não queremos atrito, somos educados, mas ficamos na torcida para que o diálogo não se aprofunde. Às vezes, conseguimos. Outras vezes, o incômodo gruda de um jeito que vai com a gente até pra terapia.
O principal defeito do incômodo é ficar apontando o dedo. Enquanto tentamos ficar em paz com nossas derrapadas, o incômodo permanece ali, com dedo em riste, insistindo para que a gente se culpe por não ter feito/escolhido/agido diferente. Autocobrança, você diria? Sim, eles são parentes.
Quando percebi que o que me incomodava era o tal incômodo, resolvi conversar com ele. Perguntei, afinal, o que queria de mim. Respondeu que só queria fazer parte, que era assim com todo mundo, melhor não lutar contra. Entendi que o incômodo é como um irmão mais novo: meio pentelho, mas é nossa responsabilidade segurar sua mão na hora de atravessar a rua. E, veja bem, ele também tem suas qualidades: o incômodo nos alerta quando (desconfiamos que) algo não vai bem.
No fim das contas, o incômodo incomoda na medida que permitimos. Zomba da gente quando insistimos na ideia ridícula de nos acharmos grande coisa; nos faz questionar caminhos percorridos. Se questionar, às vezes, incomoda.
Reconhecer o incômodo que nos habita é lembrar que nosso controle sobre qualquer coisa é igual a zero, ou menos. Hoje, quando o encontro, ofereço um abraço sincero e dou um rápido mergulho, mas não me demoro. Volto rápido à superfície e sigo nadando, respirando fundo e forte, sempre em frente, nunca à margem de mim mesma.
Para avançar na semana
Uma música, um filme, um podcast…uma dica, enfim, para deixar o dia melhor:
Ouça > Love Me More (Sam Smith). Amor (próprio) é tudo o que precisamos.
Leia > Crônicas recentes da
e doO texto dela fala sobre um outro incômodo, mas essa pergunta diz muito: Sabe quando tá tudo bem, mas aí logo não tá tudo bem?
Já o texto dele resume: A gente vive nessa cultura que nos ensina a apontar para nós mesmos o tempo inteiro.
MUITO OBRIGADA a todos que assinam, leem, comentam, curtem ou compartilham esta newsletter. O apoio de cada um, cada uma, é fundamental para seguir em frente.
esse incômodo faz com que a gente se lembre que estamos viv@s <3 seguimos, lu! adorei!
Como uma pensadora contemporânea disse uma vez: “just keep swimming” ;) E assim vamos virando nadadoras mais medalhistas que o Phelps… haha ❤️