“Encontrei um ouriço”, era o nome do perfil na rede social. O cão idoso, encontrado sem rumo na rua, cheio de espinhos no fuço, recebeu o nome de Spike. Na descrição da foto, os voluntários da ONG confiavam: dócil, porém medroso, sobretudo na hora de colocar a guia para passear.
Era um mundo pré-pandêmico, início de namoro meu e do Tiago. As poucas horas do dia que ele passava em casa fizeram com que o pessoal da ONG (a mesma de onde adotei a Chloé) sugerissem o Spike como o cãopanheiro perfeito. “Ele só quer um sofá para chamar de seu”, garantiam os voluntários.
Não lembro bem os detalhes do primeiro dia do Spike, agora Tobias, com a gente, mas os voluntários tinham razão: depois de anos na rua, tudo o que aquele senhorzinho queria era ficar enrolado em alguma superfície fofa, assistindo Sessão da Tarde.
Seis anos depois, considerando a pandemia, nosso casamento e a enchente do último maio, ele segue firme e forte com a gente, mesmo sem nunca ter revelado sua idade real. Dez? Doze? Menos? Mais? Bem dizer, isso nunca importou; quem vê o pelo grisalho não vê a energia para brincar e correr.
O Tobias não fala português, é claro, mas sabe mandar um recado. Ele fica de cara quando saímos pra trabalhar. Se estou com as duas mãos ocupadas, fica encarando um dos meus pés até que eu comece a fazer carinho. Ele dá o jeito dele.
O Tobias adora tirar foto e tem uma bundinha que parece de guaxinin. Às vezes, fica entalado tentando subir no banco de trás do carro. Tem medo de trovão e, se faz muito frio, é o legítimo cusco rengueado - dá umas mancadas aqui e ali na hora do passeio.
Nosso cão sênior só tem dois dentes e, por isso, a língua escapa com frequência, o que dá a impressão de estar exausto mesmo que seja apenas a milésima soneca do dia.
O Tobias quer brincar com todos os cachorros que passam pela gente; ele adora a Chloé, mesmo que ela não dê bola pra ele. No final de semana, se eu levanto mais cedo, ele vem pra sala me fazer companhia enquanto peparo o café.
Minha prima diz que ele encanta todo mundo porque é um cachorro muito boa praça, fato que não nego. Só não gosto de pensar no que ele passou pra ter tido medo da guia, não gosto de vê-lo fugir da vassoura enquanto eu varro a casa. Não gosto de pensar que ele viu coisas que nem cachorros nem pessoas merecem ver (ou viver).
Uma das coisas que mais me encanta no Tobias é o quanto ele adora o sol. Se o dia já amanhece bonito, ele se posiciona no braço do sofá, dá um suspiro profundo e nos olha, como se dissesse: “é, às vezes pode ser difícil, mas vai valer a pena”.
Para avançar na semana…
Tem gente nova chegando por aqui e eu sou muito grata a cada um, cada uma, que dedica um tempo (nosso bem mais precioso!) da sua rotina para ler e recomendar minhas crônicas. Deixo aqui dicas de algumas newsletters que me dão um quentinho na coração!
» A Joice, que eu conheci no Instagram e já considero grande amiga pessoal, trouxe as reflexões da pra cá também. Uma troca importante sobre saúde mental!
» Não lembro bem como encontrei a news da por aqui, só sei que depois que assinei não parei mais de ler.
» Já a eu conheci num grupo muito legal aqui de Porto Alegre e tenho certeza que ainda lerei muitas publicações dela também fora do Substack.
A todos que me acompanham por aqui, desde o início ou recém chegados: muito obrigada pelo apoio! Nos vemos em duas semanas ;)
Adorei o texto, muito fofo 🥰
Obrigada pela menção 🫶🏻 abraço pro Tobias