Truman
Pequenos hábitos cotidianos.
Uma russa que usava um perfume terrivelmente forte, uma romena que não gostava de ouvir dedos estalando, uma coreana chiquérrima e um italiano que se achava muito engraçado. Foi com eles que eu e meu irmão passamos dois meses estudando inglês durante nossas férias congelantes de verão.
Havia, ainda, o Truman. De segunda a sexta, pela janela da sala de aula, o avistávamos chegar no estacionamento. Saía do carro, deixava o copo de café sobre o teto do automóvel, abria a porta de trás e pegava uma pasta. Fechava as duas portas abertas - motorista e carona - e seguia caminho. Meu irmão, que nunca foi detalhista mas um bom observador, carinhosamente o apelidou de Truman, em homenagem ao icônico personagem de Jim Carrey no filme O show de Truman: o show da vida. Lembra?
Good morning, and in case I don't see ya, good afternoon, good evening, and good night!
Do “nosso” Truman, nunca soubemos nada. Nome, profissão… Era casado? Tinha filhos? Será que comprava o mesmo muffin que eu na vendinha do prédio? Ainda assim, até o professor, David, parou para observar outro dia.
– Espera, acho que ele não trouxe o… sim, ele trouxe o café. Mas ele ainda não… ah ok, ele abriu a porta agora.
Seria aquela sequência uma mania? Um ritual pré-trabalho? Ou, então, um simples hábito que, de tão automático, ele nem reparava que havia um padrão?
Dia desses, lembrei de Truman ao passar batom olhando no espelho retrovisor. Na verdade, me senti um pouco como ele ao perceber que faço isso enquanto espero na mesma sinaleira, a caminho do trabalho. Todos os dias. Nunca antes, nem depois. Sempre naquela. Em minha defesa, é a sinaleira que mais demora a abrir, então aproveito o tempo para dar um levíssimo tapa no visu. Mesmo assim, eu poderia escolher qualquer outro momento para fazer isso (eu só prefiro aquele mesmo).
*****
Não sair de casa sem ler o horóscopo.
Comer uma laranja por dia.
Fazer o sinal da cruz antes de uma refeição.
Preparar um chimarrão ao acordar.
Beber um chá antes de dormir.
Passar batom na mesma sinaleira.
Deixar o café sobre o teto do carro.
Superstição? TOC? Pode até ser, mas prefiro vê-los como pequenos hábitos cotidianos, cujo significado só interessa ao executor, seja no começo, meio ou fim do dia. Trata-se, acima de tudo, de um momento de conexão particular. Só você e aquele instante.
Qual é o seu?
Para seguir a semana…
Como boa millennial (e também por conta do título da newsletter de hoje), encerro com a dica desse filme que talvez muitos aqui já tenham assistido. Caso você seja de uma geração mais nova, #ficaadica. Caso você não tenha assistido por que não gosta do Jim Carrey, insisto que faça uma forcinha, não há de se arrepender.
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Agora vou ter que ficar atenta aos meus hábitos porque não lembro de nenhum hahahah
Esse filme é maravilhoso como a maior parte dos filmes do Jim Carrey. Adorei a edição, Luísa!